As mesmas estarão participando nos dias 10,11 e 12/11 da etapa Regional em Belo Horizonte-MG
A Minha Cidade Querida
Quando cheguei a esta terra, ainda adolescente, vinda do sertão nordestino, estranhei muito, as comidas diferentes, o sotaque, muitas coisas que eu conhecia com um nome, aqui era outro. Meu pai era agricultor, logo arrumou emprego numa fazenda bem próxima e minha mãe era professora, bordava muito ponto cruz que era moda, as vizinhas encomendavam e ela fazia e nas horas de folga dava aulas particulares para algumas crianças que as mães a procuravam por não ter uma escola por perto.
Era uma vila, com um canavial ao redor das poucas casas que existiam e muitos plantios de mandioca.
Aqui moravam poucas famílias, somente as duas primeiras fundadoras e proprietárias do local.
Diversão no local não existia, tínhamos que nos deslocar até a cidade vizinha para as festas do Padroeiro, ou quermesse (festas juninas) que eram as mais freqüentadas pelas famílias. Outra diversão era ir ao Cine de Seu Antônio que trazia os filmes da capital e passava pra gente. Lembro-me bem de Love History e A Lagoa Azul, como eram bonitas as histórias de amor contadas naquele tempo. Lembro do Charles Chaplin que era muito engraçado, a gente dava muitas risadas com seus trejeitos.
Foram chegando famílias de outros Estados e foram construindo suas casas e montando seu comércio. Primeiro foi a marcenaria de seu Honório, gaúcho, que começou a fazer seus móveis, cada um mais bonito que outro. Depois seu José e D. Zezinha que montaram seu armazém onde encontrávamos muitas coisas. Lá comprávamos para pagar no final do mês quando o meu pai recebia seu salário, mas para isso tínhamos uma caderneta em casa, onde minha mãe controlava tudo para não ultrapassar o ganho de meu pai e ainda sobrar para comprar roupas e calçados para todos.
A cidade foi crescendo, e foi criada uma escola, onde a primeira professora foi a minha mãe, D. Elza. Tinha somente uma sala de aula, foi lá onde terminei o meu primário. Também foi nessa época em que conheci o meu primeiro namorado. Estudávamos na mesma série e começamos a “flertar”, era com se chamava a paquera de antigamente. Ele havia chegado de São Paulo com seu pai que comprara uma fazenda pertinho daqui, mas demorou pouco, resolveu ir embora para estudar.
Como era saudável o namoro daquele tempo. A gente trocava bilhetinhos amorosos. A gente também brincava de passar o anel. Fazíamos um círculo e uma pessoa ia passando o anel e só o deixava cair na mão de quem gostasse mais.
A vila cresceu rápido, passou a cidade e logo foram construídas escolas municipais, estaduais e particulares. Também foi quando apareceu um italiano que construiu uma indústria de farinha de trigo que depois passou a fazer macarrão, arroz e biscoito. Esta trouxe muitas famílias para trabalhar aqui e a população foi aumentando. Daí veio a necessidade de mais casas e apareceram os conjuntos habitacionais.
Formei-me no magistério e comecei a lecionar em uma das escolas estaduais, depois fiz o curso de matemática e continuei como professora. Um dia chegou um rapaz para a vaga de português. Ele era muito sério, mas simpático. Fui a primeira a puxar conversa com ele, ficamos amigos e depois começamos a namorar, foi pouco tempo de namoro e nos casamos. Tivemos dois filhos, que nos deram quatro netos. Hoje estamos aposentados, tenho 65 anos e ele, 70. Passeamos na casa dos filhos e muito felizes com a família que construímos, com a vida que temos e na cidade em que vivemos porque ela nos acolheu como filhos e passamos a amá-la como se fosse a nossa terra natal. Por isso a chamamos de minha cidade querida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário